“Nos olhos certos, você sempre será arte”. Eu li essa frase no stories do Tulio, e estou meio preso à ela desde então. Era uma publicação do perfil @viverdeviver e acredito que ela resume várias questões sobre as expectativas que temos com o olhar do outro sobre nós. Até porque a gente acha que o amor vem do outro, e nos condicionamos para receber esse afeto. A forma como o outro nos enxerga nos afeta. Você tem se olhado com admiração?
No segundo texto que publiquei no Artes e Outros Afetos, quando falei sobre meu último apaixonamento, citei que aquela situação renderia uma exposição sobre o objeto pelo qual me apaixonei. Cada pedaço dele poderia ser pintado, cada memória não vivida. Cheguei até a pensar em criar uma série de pinturas chamada “Não coube” com todas as coisas que eu ainda gostaria de ter vivido com ele, mas não aconteceram no espaço de tempo que passamos juntos. Talvez porque o não vivido parece ser maior e melhor do que o que já aconteceu. "O melhor amor é sempre aquele que você poderia ter tido e não teve", palavras da psiquiatra Natalia Timerman em entrevista para a revista Gama. Meses depois, desisti da ideia porque o apaixonamento foi passando com a ausência do objeto e aquela exposição só faria sentido se eu realmente estivesse sentindo tudo aquilo no momento de criar. Hoje acho que seria uma perda de tempo. Rs.
Mas o que quero mostrar contando essa história de novo é que amor é afeto e, para mim, afeto é como a arte. E a arte toca. Inspira. Te leva para outros lugares e te ajuda a se expressar. Se podemos dizer que o amor é uma arte e a arte também pode ser amor, o que a gente admira diz muito sobre o que esperamos do outro. É a nossa falta que vai nos ajudar a entender o que buscamos e o porquê. Será que esse quadro bonito ou essa música incrível vão preencher o ambiente que você está construindo para se acolher?
Se há manifestações artísticas que não gostamos, nos afetos não seria diferente. O problema é que nos afetos, somos os dois lados da mesma moeda. Somos obra e artista. Criador e criatura. Sujeito e objeto. Ora amamos, ora somos amados. Com um pouco de sorte e um olhar atento, acontece o amor dos dois lados. Mas nem sempre as circunstâncias contribuem para que tanto o espectador quanto o artista estejam no mesmo tempo e espaço. E muitas vezes não nos damos conta de que há admiração vinda de outros olhares porque estamos com a vista fixa em apenas uma obra ou artista sendo que há um mundo de artes para olhar e admirar.
E isso vale para todas as relações, além do campo do amor romântico (ainda tento entender por que a gente valoriza tanto esse objeto e por que o vazio do amor romântico parece ser maior que os outros). Amigos e familiares também são campos de vínculo importantes na criação desse espaço. É nele que nos sentimos confortáveis em tirar nossas máscaras sem medo da rejeição. . Nos últimos anos tenho revisitado as dinâmicas das minhas amizades e entendendo com o tempo se também sou arte aos olhos dos meus amigos. Você tem feito o mesmo? Tem aplaudido e acolhido eles? Ao nos darmos conta de que existem outros olhares com admiração e carinho sobre nós, entendemos que sempre seremos arte. Esse é o olhar.
Pra gente se inspirar
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história- Carlos Drummond de Andrade
Eu gosto muito desse poema que retrata os desencontros do amor... Essa admiração que não é recíproca. Esse amor que é de graça. Acho simples e bonito. Fico me questionando se houve conversa, se um sabia que o outro o amava. Se era apenas um desencontro e azar ou se houve negação. Não tem como saber, mas é quase um abraço perceber que não estamos sozinhos nessas divergências amorosas, não acha?
Pra gente se conectar
Em Tarot, Bad Bunny diz que é o próprio Da Vinci e sua amada é uma obra de arte.
Sobre estar presente o tempo todo e mesmo assim não ser visto, em Na sua Estante, da Pitty.
"A gente tá sempre em déficit de amor", por Emanuel Aragão.
Agradecimento especial ao Álefe Gonçalves, que revisou os textos desta publicação com muito carinho.
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ai meu coração! passado que aquele storie virou tudo isso. o real motivo de eu ter publicado saiu de um lugar taaao obscuro. tinha passado por - mais uma - situação daquelas em que você se sente mega desvalorizado. e busquei nas minhas publicações salvas algo como aquela frase. sim eu tenho mania de salvar frases potentes, imagens de referência estética, moda e áudios engraçadinhos pra não sei o que. na minha cabeça tudo isso um dia vai servir pra alguma coisa. é uma lixeirinha virtual particular, mas nela tá cheio de luxo. 🥀